Norte
As 1as Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Região Norte (ver programa), realizadas no Museu do Douro, no dia 18 de janeiro 2014, foram organizadas pela Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, com o apoio da Câmara Municipal de Peso da Régua, Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, Turismo do Porto e Norte de Portugal, e Museu do Douro; com a colaboração da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Parque Arqueológico do Vale do Côa, Ecomuseu do Barroso, Universidade Lusófona, Sociedade de Geografia de Lisboa, PPORTODOSMUSEUS, Câmara Municipal de Tavira, Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, Centro de Música Tradicional Sons da Terra e Edições Colibri.
Estas Jornadas pretenderam contribuir para uma mais ampla perceção da riqueza e diversidade do património cultural imaterial da região Norte e promover a sua salvaguarda, bem como assinalar a comemoração da década da aprovação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (UNESCO, 2003).
Os seus participantes (representantes do movimento associativo de defesa do património cultural; técnicos superiores autárquicos, de museus e de instituições diversas; investigadores, docentes e estudantes de ciências sociais; membros de confrarias, personalidades e grupos artístico-culturais; especialistas em vários domínios do património cultural, etc.) que trocaram experiências e manifestaram expectativas e interrogações, revelaram contudo, algumas preocupações, entre as quais, as que se seguem, dada a sua consensualidade:
1. Atender à necessidade de se proceder à Identificação, Levantamento e Inventariação do Património Cultural Imaterial (PCI), em cada um dos Municípios que constituem a Região Norte;
1. Concordar com a criação do Dia Nacional do PCI (27 de novembro, data em que o Fado passou a integrar a Lista do PCI da UNESCO), sugerindo que neste ano já sejam realizadas ações de promoção;
2. Criar uma «Linha “SOS” Património Cultural Imaterial em Perigo», tendo em vista alertar para as situações mais graves que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes;
3. Apoiar todos os esforços que visem a disponibilização do acervo do Museu de Etnologia do Porto, encerrado desde 1992, dada a sua importância patrimonial, incluindo ao nível do PCI;
4. Dar continuidade a estas Jornadas, se possível durante o corrente ano, sendo já registada a proposta do Município de Montalegre em acolhê-las no Ecomuseu do Barroso;
5. Manifestar com muito agrado a forte adesão do público que, a par da qualidade das comunicações e do debate operado, excedeu as melhores expectativas.
Peso da Régua, 18 janeiro 2014
1as Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Região Norte, Museu do Douro
Agência LUSA (jornalista Paula Lima, 13 janeiro 2014)
Entrevista com o Presidente da Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, antropólogo Luís Marques, a propósito das 1as Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial do Norte.
Quais são os objetivos deste encontro e porque é que ele decorre na Régua, no Douro Património Mundial?
Os objetivos destas 1as Jornadas são, essencialmente, contribuir para promover a salvaguarda e uma mais ampla perceção da riqueza e diversidade do Património Cultural Imaterial da Região Norte. Claro que as Jornadas poderiam ser realizadas num outro local, mas pareceu-nos que o Museu do Douro, pela situação geográfica, simbolismo, conceção museológica e atuação prática – que em muito se situam no campo da cultura imaterial – poderia corresponder bastante bem a esta iniciativa que se pretende aberta a toda a região Norte. Não esqueçamos que a esta «emblematização» se ligam também algumas das componentes mais representativas do património intangível que aqui ganham uma expressão singular. Não são só os incorpóreos sabores e odores únicos do vinho do Porto ou dos vinhos do Douro, mas as próprias tecnologias tradicionais que se lhe encontram associadas: o «saber-fazer» de tanoeiros, lagareiros, vindimadores, etc. Por outro lado, temos de tentar conhecer melhor certas atuações exemplares, como é o caso, por exemplo, do Ecomuseu do Barroso, um museu pioneiro na aplicação deste conceito na museologia e que muito merece uma visita.
Quais são os riscos que o Património Imaterial corre?
São sobretudo os que derivam da permanência de certas conceções ainda influentes na sociedade portuguesa e que persistem em não reconhecer o seu valor identitário. Ao menosprezarem a sua existência, desvalorizam o seu conteúdo e a sua relevância no plano da própria coesão nacional (basta pensarmos nas festas religiosas populares que se realizam por todo o território nacional, e não só, que sob a invocação de determinados oragos continuam anualmente a dar sentido à existência de uma grande parte dos portugueses). Isto para além das adversas condições socioeconómicas atuais, que levam por exemplo, à emigração, com o despovoamento de boa parte das zonas do interior e o consequente desaparecimento ou extinção de inestimáveis expressões culturais imateriais. Daí que faça sentido a criação de uma «Linha “SOS” Património Cultural Imaterial em Perigo» que permita alertar para as situações mais graves que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes, cf. foi proposto nas conclusões das 1as Jornadas do Médio Tejo que realizámos no passado dia 16 de novembro, em Constância.
O que está a ser feito com vista à salvaguarda deste Património?
Ao nível oficial, tanto quanto sei, muito pouco. O Património Cultural Imaterial está aí restringido à sua revelação mais ínfima ou residual. De facto, há uma separação flagrante entre as instituições oficiais e a realidade cultural tradicional. Isso pode constatar-se, nomeadamente, através do Inventário Nacional (em que após vários anos de legislação específica publicada, apenas ali figuram duas expressões!) ou das próprias Candidaturas à UNESCO (Fado, Dieta Mediterrânica e Cante Alentejano) que até hoje sempre ignoraram o MC/SEC, não figurando, portanto, no referido Inventário! Claro que esta desunião irá, certamente, um dia, mudar. Tanto mais que se trata de uma missão simples, bem ao alcance de todos aqueles que se coloquem na perspetiva do futuro. Existe ainda um outro Portugal por dignificar e «descobrir»: o Portugal do Património Cultural Imaterial. É nesse sentido, aliás, que, inequivocamente, se pretendem situar as 1as Jornadas para a Salvaguarda do PCI do Norte e todas as demais ações que ulteriormente pretendemos levar a efeito em todo o país.
Primeiras Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Região Norte, Museu do Douro
Alguns dos participantes das Jornadas junto ao painel colocado na fachada do Museu do Douro que anunciava as Jornadas.
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