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Dieta Mediterrânica
A aprovação da candidatura para a integração da Dieta Mediterrânica na Lista Representativa do Património Cultural da UNESCO teve lugar no dia 4 de dezembro de 2013, no Azerbaijão, no âmbito da 8ª. Sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da UNESCO.
 
Portugal contou com Tavira como comunidade representativa, tendo o processo técnico sido assegurado pela Câmara Municipal desta cidade. 
 
Subscreveram esta candidatura transnacional sete Estados com culturas mediterrânicas milenares: Portugal (Tavira), Chipre (Agros), Croácia (Hvar e Brac), Grécia (Koroni), Espanha (Soria), Itália (Cilento) e Marrocos (Chefchaouen).
 
Vídeo oficial
 
Abaixo publicamos uma entrevista dada por Luís Marques, presidente da PCI-Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, à jornalista Ana Clara, do blogue Café Portugal, a propósito de a Dieta Mediterrânica ter passado a integrar a Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da UNESCO. 
 
Qual a importância deste reconhecimento não só para o País, mas também para a nossa gastronomia?
Creio que é bastante significativa, sobretudo se for entendida como um novo exemplo (a seguir ao Fado) do vasto e valioso património cultural imaterial existente em Portugal e, que, em grande parte continua por dignificar e até por «descobrir». Quanto à gastronomia, claro que poderá obter benefícios. Mas mais do que avaliar com gosto e competência o prazer culinário ou conhecer e exercer a arte de bem cozinhar, de apreciar a boa preparação das iguarias e de as saborear, convém notar que o termo dieta é mais abrangente, pois não respeita apenas à alimentação, mas refere-se ao próprio modelo cultural, à alimentação tradicional, aos conhecimentos e às práticas, aos objetos, artefactos e espaços que se lhe encontram associados, habitualmente transmitidos de geração em geração, e que as comunidades, os grupos ou os indivíduos, reconhecem como seus. Um bom exemplo deste processo identitário poderá ser mostrado muito proximamente nas 1.ªs Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Região Norte, promovidas pela Associação de que sou Presidente, onde se irão apresentar e debater a «dieta de montanha»; «Do Fazer ao Usar: a Louça Preta de Bisalhães»; «Comeres “enxota-diabos” ou manjares para amantes tacanhos»; a «Mesinha de S. Sebastião» – Um Exemplo da Religiosidade Popular»; «Rituais de Inverno - Festa e Comensalidade»; «O Pão Nosso de Cada Dia!» – numa visão etnomusicológica, etc.
 
Como olhou para todo o processo desta candidatura?
O processo de candidatura encetado pela Câmara Municipal de Tavira é muito louvável e merece todo o nosso apreço e consideração. Por outro lado, ele constitui também mais um flagrante exemplo do divórcio hoje existente entre a realidade social e as instituições oficiais. Note-se que à luz da Convenção da UNESCO, cada candidatura deve constar previamente nos respetivos inventários nacionais. Portanto, figurar no inventário nacional é condição indispensável para a apresentação de uma candidatura à UNESCO. O que, como sabemos, não sucedeu com a Dieta Mediterrânica. Aliás, até hoje, no inventário nacional, apenas se conta a «Capeia Arraiana» (desde 2011) e o «Kola San Jon», de uma comunidade cabo-verdiana radicada no concelho da Amadora (desde o passado mês de Outubro). Mas aquela situação já se havia verificado com o Fado e igualmente com o Cante Alentejano. De facto, a população do país não se revê nas atuais instituições oficiais no domínio da cultura, organismos que vivem desligados da dinâmica tradicional, que se constituem à margem, quase como excrescências sociopolíticas e sem a legitimidade bastante para se manterem em funções.
 
Considera que será possível, no caso de Portugal, com este estatuto recuperar hábitos alimentares mais saudáveis e potenciar setores como o turismo e a agricultura?
Penso que sim, com esta inscrição na Lista Representativa do PCI da UNESCO surgirão pelo menos tentativas para recuperar certos hábitos alimentares, ainda que algumas delas mais imediatistas e superficiais e mais ligadas à gastronomia. Sobre a agricultura e, em parte, sobre o turismo, desconheço bastante os seus propósitos, o seu dinamismo e alcance, pelo que tenho dificuldade em pronunciar-me. No entanto, seria desejável que tal acontecesse.
 
O que pode e deve ser feito, a partir de agora, para manter o título?
Valorizar a sua existência, mostrar orgulho por estes produtos e práticas tradicionais que se lhe encontram associadas merecerem hoje tão grande aceitação, i.e., evitar a todo o custo imitações, a «turistificação» ou supostas melhorias de proveniência exógena à cultura local. Claro que a influência exterior e a evolução social constituem uma realidade inelutável, mas isso não deve alterar o essencial das características atuais desta Dieta, a sua expressão cultural imaterial, mesmo que alguns dos seus componentes, como é o caso do tomate, só venha a ser cultivado a partir do período dos Descobrimentos, visto ser originário da América Latina.

Exemplo de alguns alimentos que compõem a Dieta Mediterrânica


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