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Aldeias Identitárias

 


Por convite do Diretor do «Jornal do Fundão», a propósito da sua iniciativa intitulada «ALDEIAS IDENTITÁRIAS», o Presidente da Associação PCI, Luís Marques teceu algumas considerações que vieram ali a ser publicadas, cf. texto que se segue:
 

JORNAL DO FUNDÃO - 4 maio 2023

 

«ALDEIAS IDENTITÁRIAS»

 

Por «Aldeias Identitárias» entendo o conjunto das suas manifestações individuais e coletivas desde os tempos mais recuados até à atualidade. Digamos que nestes territórios isso se expressa pela sua cultura material e imaterial. Sejam os seus edifícios e os seus arruamentos, sejam as relacionadas memórias e práticas tradicionais transmitidas de geração em geração. Por isso, para além da louvável ação física que em certos casos se verifica atualmente nas chamadas «interioridades» com obras de recuperação ou reconstrução de prédios e outras melhorias, importa agora, resolutamente, dar identicamente atenção à valiosa ação complementar: contribuir para repovoar as aldeias com ex-moradores ou os seus descendentes, pois serão eles a alma que falta a esses lugares. Note-se que foram eles que deram sentido a esses espaços comunitários, que os vivenciaram, que conhecem os seus meandros e os seus arreigados costumes. Assim, por cada autóctone que se dispuser a regressar, é parte de um tesouro cultural imaterial recuperado que muito engrandecerá o viver futuro aldeão. A par da beneficiação de condições materiais (imóveis restaurados ou reconstruídos, estradas e largos prosperados, etc.), é imperioso ir igualmente em busca dessa identidade viva que só os antigos habitantes detêm. Fixar essas gerações conhecedoras das oralidades e práticas tradicionais, do seu «saber-fazer, das festividades cíclicas, etc., será o passo mais significativo para se atingir aquilo que se designa por «Aldeias Identitárias».

Aliás, o estatuto alcançado pelos «Bombos de Lavacolhos», em fevereiro do ano passado, ao serem considerados Património Cultural Imaterial nacional é a prova evidente de uma invejável realidade material e imaterial, pois nesta aldeia não existe apenas o seu casario ou o seu património edificado e os seus residentes, mas analogamente a sua alma, ou seja, a preciosa existência dos «Bombos de Lavacolhos», talvez a expressão cultural maior da sua identidade. 

Note-se ainda que na próxima quinta-feira, dia 13, realizar-se-á aqui a «Procissão dos Penitentes», uma outra manifestação do Património Cultural Imaterial (PCI) desta freguesia e mais um exemplo da sua vitalidade patrimonial imaterial. 

Também na região do Fundão abundam diversas manifestações bem reveladoras da importância do PCI. É o caso de, entre outros: «Romaria de Santa Luzia»; «Bodo de São Sebastião»; «Ciclo Beirão das Tradições da Quaresma» com ladainhas, cantos, encomendação das almas e procissões; «Festa das Papas» e as «rendas de Lérias» da Póvoa de Atalaia; «Cestaria de Alcongosta»; «Festa de Sebastião», na Fatela, com o leilão das chouriças, etc. 

Por outro lado, é preciso notar que atualmente o Fundão é o Município do país com maior n.º de Pós-graduados em PCI (5), o que constitui uma situação extraordinariamente favorável para a salvaguarda e valorização do PCI do concelho. Neste contexto, é bastante desejável que aqui se abra inequivocamente uma frente PCI. Por exemplo, começar por mapear ou elaborar o «Atlas do PCI do Fundão» (com as diferentes expressões culturais imateriais conhecidas devidamente assinaladas em cada uma das freguesias: «saber-fazer» tradicional, cultos populares, literatura oral, cozinha tradicional e simbólico-ritual, festividades cíclicas, ex-votos, medicina popular, música, coreografias e outras performances tradicionais, etc.), encetando posteriormente o respetivo trabalho de pesquisa, recolha, registo e divulgação, criando paulatinamente o «Inventário do PCI do Fundão», sem esquecer a colocação das expressões culturais imateriais no site do Município, a preparação de diversificados «Roteiros do PCI» e a definição e elaboração de novas propostas de inscrição no «Inventário Nacional do PCI».

Como forma de melhor concretizar tais ações, poderá ser criado um «Gabinete de Promoção do PCI do Fundão» ou mesmo um «Centro de Promoção do PCI da Beira Interior» com sede no Fundão, podendo, eventualmente, este ser alargado à própria Comunidade Intermunicipal (CIMBSE).

Também o PRR deveria incluir medidas em prol do PCI. Neste sentido, o «Programa Regressar» que pretende valorizar os emigrantes ou familiares de emigrantes que pretendam regressar às suas terras de origem daria prioridade ou apoiaria mais quem pretenda fixar-se no interior, relativamente aos que pretendam radicar-se, sobretudo em Lisboa, Porto, Braga e Aveiro, cf. relatou recentemente o «Jornal de Notícias» (dia 31 março).

 

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