Aliete Galhós, grande estudiosa e promotora da salvaguarda e valorização da Literatura Oral Tradicional Portuguesa
ALIETE GALHOZ
No passado dia 20 setembro 2020, aos 91 anos de idade, faleceu em Beja, Maria Aliete
Farinho das Dores Galhoz.
A filóloga, ensaísta, poeta e investigadora literária licenciou-se em Filologia Românica
na Universidade de Lisboa, foi Doutorada Honoris Causa pela Universidade do Algarve
em 1996 e, em 1999, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante
D. Henrique. Foi membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade de
Língua Portuguesa, da Associação Internacional de Lusitanistas, da Associação
Internacional de Críticos e da Associação Internacional de Literatura Comparada.
Aliete Galhoz exerceu como professora do secundário e produziu uma extensa obra,
constituída por ensaios críticos, comunicações em congressos e publicações periódicas,
como a Revista Lusitana. Nova Série, Revista E.L.O. (Estudos de Literatura Oral),
Colóquio-Letras, Boletim de Filologia do Centro de Estudos Filológicos, O Tempo e o
Modo, Nova Renascença e algumas páginas literárias.
A sua atividade de investigação repartiu-se entre a Literatura chamada institucional,
com estudos sobre Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa, tendo sido pioneira nos
estudos pessoanos, de que deixou vasta obra, e a Literatura Oral Tradicional, hoje
reconhecida pela UNESCO como parte integrante do Património Cultural Imaterial.
Aliete Galhoz foi uma figura incontornável nos estudos da Literatura Oral Tradicional,
de que foi "cabouqueira", como ela própria se definia e nos quais se tornou
internacionalmente reconhecida pelos seus pares. Foi investigadora do INIC (Instituto
Nacional de Investigação Científica), colaboradora de Lindley Cintra e de Manuel
Viegas Guerreiro e, juntamente com este último, fundadora do Centro de Tradições
Populares Portuguesas "Prof. M. Viegas Guerreiro", unidade de I&D da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa e da FCT, hoje ligado ao CLEPUL, da mesma
instituição universitária.
Escreveu numerosos prefácios e recensões críticas a obras nesta área e foi ela própria
autora de artigos de grande qualidade e rigor científico sobre Lírica tradicional
(nomeadamente orações tradicionais e cantigas paralelísticas), mas tornou-se uma
referência no campo dos estudos do Romanceiro tradicional, de que se destaca, em
especial o seu Romanceiro Popular Português, em 2 volumes, o primeiro com
romances e o segundo com cantigas e orações narrativas.
Com o falecimento de Aliete Galhoz, a Cultura Portuguesa e os estudos de Literatura
Oral Tradicional, em particular, sofrem uma enorme perda.
Ana Morão
(membro da direção)
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